Foto: © Pref de Três Barras SC/Divulgação/Direitos Reservados
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) vem a público alertar sobre os riscos associados ao procedimento cirúrgico denominado ceratopigmentação, também conhecido como “tatuagem da córnea”, especialmente quando utilizado com a finalidade exclusiva de alteração estética da cor dos olhos em indivíduos com visão preservada.
A ceratopigmentação consiste na implantação cirúrgica de micropigmentos de diversas cores nas camadas estromais da córnea, com o objetivo de modificar sua coloração. Embora a técnica tenha indicação específica para camuflagem de leucomas ou outras opacidades corneanas em pacientes com cegueira permanente ou baixa visão profunda, visando à reabilitação estética e psicossocial, sua aplicação em olhos saudáveis não encontra respaldo na literatura científica atual e expõe o paciente a riscos relevantes.
“A utilização do procedimento exclusivamente para fins estéticos não é recomendada, devido à possibilidade de infecções, inflamações de difícil manejo e alterações irreversíveis na arquitetura corneana, que podem prejudicar tanto a avaliação diagnóstica de estruturas intraoculares quanto a realização de cirurgias futuras, como a facoemulsificação para tratamento da catarata”, enfatiza a presidente do CBO, Dra. Wilma Lelis.
Complicações documentadas incluem lesões persistentes da córnea, risco de perfuração ocular, endoftalmite, uveítes, elevação da pressão intraocular e potencial perda visual significativa, podendo evoluir para cegueira. Pacientes submetidos à técnica têm relatado sintomatologia importante, como dor ocular, ardência, sensação de corpo estranho, fotofobia intensa e lacrimejamento crônico, comprometendo significativamente a qualidade de vida.
O procedimento, quando indicado, deve integrar protocolos clínicos criteriosos, sempre sob a responsabilidade do médico oftalmologista, que avaliará individualmente a condição ocular, as possibilidades terapêuticas e as melhores estratégias para preservar a saúde ocular e a função visual do paciente.
“A ceratopigmentação pode ser considerada, de forma restrita, para melhorar a aparência estética em casos de cegueira irreversível em um dos olhos, quando alternativas menos invasivas, como lentes de contato coloridas ou próteses oculares, não se mostram eficazes”, esclarece o Dr. José Álvaro Pereira Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Córnea (SBC).
Diante dos riscos envolvidos, o CBO e a SBC reiteram que qualquer intervenção cirúrgica em estruturas oculares deve ser realizada exclusivamente sob orientação de oftalmologista habilitado. Procedimentos invasivos não devem ser tratados como opções estéticas simples, mas sim como intervenções médicas complexas, que exigem rigor técnico, ética profissional e compromisso com a segurança do paciente.
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